A ciência mostra que a disfunção erétil é comum e tem relação com outras doenças

Recentemente, um grupo de pesquisadores estudou a prevalência da disfunção erétil. Eles também avaliaram as evidências relacionadas às doenças cardíacas e mortalidade vascular.

A disfunção erétil no mundo

A disfunção erétil (DE) é a incapacidade de manter uma ereção firme o suficiente para fazer sexo. Em alguns casos, pode ser sinal de um problema médico subjacente, tais como pressão arterial alta ou mesmo a obesidade. Em outros casos, pode estar a ligada a problemas de ordem psicológica, ou seja, baixa auto-estima, depressão e ansiedade.

Embora a DE seja relativamente comum, sua prevalência tem sido difícil de determinar. Com isso, os estudos produzem uma gama de resultados dos mais variados. Isso se deve a uma série de razões, principalmente porque a definição de disfunção erétil é subjetiva para alguns.

Um problema crescente?

De acordo com os autores, a DE é uma preocupação crescente e o aumento se deve à vários motivos, como por exemplo, a idade é um fator de risco, e a população mundial está crescendo continuamente e vivendo mais. Além disso, a obesidade e condições relacionadas como a diabetes, que também estão em alta, são fatores de risco para a o desenvolvimento de problemas de ereção.

Compreender a magnitude e o escopo da condição é mais importante do que nunca. Para investigar, os cientistas pegaram dados de estudos anteriores. Ao todo, eles identificaram 41 estudos relevantes que examinaram a prevalência e o papel da disfunção em outras condições. Os pesquisadores encontraram que as taxas de prevalência variaram de 3% a 76,5%.

Por que essa diferença?

A pequisa também investigou como os diferentes métodos de avaliação da disfunção erétil afetam os resultados. O Índice Internacional de Função Erétil é uma ferramenta baseada em questionário. Estudos com esse método específico encontraram taxas de prevalência de 13,1 a 71,2%.

Outra medida padrão é um questionário que foi originalmente elaborado para o Estudo de Envelhecimento de Massachusetts. Os artigos que usaram este método produziram uma variação de 15,5 - 69,2%.

Embora os dois métodos acima sejam os mais comuns, alguns estudos usaram outras ferramentas menos usuais. Os estudos que usaram tais ferramentas produziram resultados com a maior variância, fornecendo taxas de prevalência mais baixas e mais altas (3% e 76,5%).

Isso mostra que o método que os pesquisadores utilizam pode influenciar fortemente os resultados. Também mostra que não importa como a disfunção erétil é medida, os estudos chegam à conclusões dramaticamente diferentes.

Os autores ainda relataram os resultados de acordo com as regiões geográficas:

  • Europa: 10 - 76,5 %
  • Ásia: 8 - 71,2 %
  • Oceania: 40,3 - 60,69 %
  • África: 24 - 58,9 %
  • América do Norte: 20,7 - 57,8 %
  • América do Sul: 14 - 55,2 %

Essa disparidade entre as regiões provavelmente se deve a uma ampla gama de influências, incluindo fatores ambientais, genéticos e de estilo de vida. Além disso, as normas culturais podem influenciar se um indivíduo se sente confortável em relatar ou não o seu problema de ereção.

Em geral, os pesquisadores descobriram que os fatores de risco mais importantes para a DE incluem a idade, obesidade e doenças como diabetes e depressão. Além do consumo excessivo de álcool e fumo.

Disfunção erétil e doenças cardiovasculares

Quando os cientistas procuraram ligações entre a disfunção erétil, doenças cardíacas e dos vasos sanguíneos, eles encontraram uma abundância de evidências.

Foi observado um aumento da prevalência e incidência de um número de condições, como enfarte do miocárdio e isquémica do coração, pressão alta, angina de peito, arteriosclerose e doença vascular periférica.

Eles também encontraram uma associação entre a DE e a mortalidade. Eles disseram:

Homens com disfunção erétil também têm um risco aumentado de mortalidade por todas as causas [...], bem como por doença cardiovascular.

No entanto, como os autores observaram, a maioria dos estudos investigados eram populacionais transversais, de modo que os dados foram retirados apenas dos participantes. Isso significa que não é possível eliminar a causa e o efeito - as doenças cardiovasculares podem aumentar o risco de disfunção erétil ou vice-versa.

O estudo concluiu que: A prevalência global da disfunção erétil é alta e representa um fardo significativo para a qualidade de vida dos homens e de suas parceiras. Eles também acreditam que os médicos devem pensar nessa condição em pacientes em risco, já que os próprios pacientes podem não fornecer informações voluntariamente.

Relação com doenças vasculares

Globalmente, a disfunção erétil afeta cerca de 150 milhões de homens. Desse grande número de indivíduos, a maioria tem DE vasculogênica, que se pensa representar uma manifestação distinta da mesma doença sistêmica que leva à doença cardiovascular clínica (DCV).

Os fatores de risco compartilhados entre DE e DCV, sua forte associação com DCV subclínica e clínica, a plausabilidade biológica da "hipótese do tamanho da artéria" (uma base patobiológica para o valor preditivo de DE para DCV), e a força da evidência epidemiológica demonstrando o valor da DE para a previsão de DCV, faz um argumento convincente para sua utilidade potencial na predição de risco de DCV clínica e para orientar o início e a intensidade da terapia preventiva.

A utilidade plausível da DE na previsão de risco e orientação da terapia preventiva encorajou um impulso significativo em certos círculos clínicos e de pesquisa, para avaliar sistematicamente os sintomas da DE como parte da avaliação clínica padrão do risco cardiovascular.

Referências:

  1. VAN HEMELRIJCK, Mieke et al. The global prevalence of erectile dysfunction: a review. BJU international, v. 124, n. 4, p. 587-599, 2019.
  2. ORIMOLOYE, Olusola A.; FELDMAN, David I.; BLAHA, Michael J. Erectile dysfunction links to cardiovascular disease—defining the clinical value. Trends in cardiovascular medicine, v. 29, n. 8, p. 458-465, 2019.