Sou uma pessoa viciada em pornografia? Saiba como identificar esse vício
A pornografia é a exibição explícita de relações sexuais e de órgãos genitais, com o objetivo de estimular a excitação sexual de quem a vê. Antes, a pornagrafia era consumida através das revistas, como a famosa Playboy. Hoje em dia, com o excesso facilitado à internet, temos a pornografia na palma de nossas mãos a qualquer hora do dia.
De acordo com os dados da plataforma Pornhub, o Brasil é um dos países que mais consome conteúdo adulto, ocupando o 11° lugar no ranking. Mas com a pandemia, a busca por pornografia cresceu disparadamente no mundo todo.
Assistir a filmes e vídeos pornôs é uma forma de entretenimento e não há mal nenhum nisso. Porém, o problema está no consumo excessivo desse tipo de conteúdo, tornando-se um vício.
O que é o vício em pornografia?
O vício em pornografia torna a pessoa emocionalmente dependente do mesmo, a ponto de interferir em sua vida diária, nos relacionamentos amorosos e até na capacidade do homem de ficar com o pênis ereto por mais tempo.
Não há como medir se uma pessoa assiste pornografia excessivamente, nem há um padrão do quanto de vezes é considerado normal. Mas, uma pessoa viciada é aquela em que vai aumentando a frequência com que assiste e, quando percebe, está assistindo várias vezes por semana, até por horas seguidas todos os dias. As masturbações assistindo ao pornô também são frequentes.
Com o tempo, a pessoa passa a ficar insensível ao sexo e precisa de estimulações cada vez mais intensas para conseguir se satisfazer sexualmente. Alguns especialistas apontam que a pornografia excessiva está associada ao vício em masturbação, o que igualmente acaba por tornar o homem menos sensível às relações sexuais com a pessoa parceira.
De acordo com a ciência, o neurotransmissor dopamina é liberado no cérebro em situações de prazer, satisfação e recompensa. Quando os receptores deste neurotransmissor são muito estimulados, com o tempo eles passam a ficar menos responsivos, fazendo com que o cérebro necessite de cada vez mais estímulos para alcançar a sensação de recompensa no sexo.
Apesar das consultas com especialsitas terem se tornado cada vez mais frequentes devido a compulsão por conteúdos sexuais, há uma divergência de opinião entre os profissionais. Enquanto alguns acreditam que o vício em pornagrafia seja uma espécie de transtorno sexual, outros defendem que não há dados suficientes para categorizar como um problema de saúde. Considerando que um estudo de 2019 sugere que a prevalência desse transtorno pode ser em torno de 3-6%, a falta de uma classificação formal dificultou a real determinação da taxa.
O fato é que os filmes pornôs podem até se tornar uma prioridade na vida de algumas pessoas, deixando para trás a intereção social, tarefas e responsabilidades importantes. Gostar de assistir pornografia é algo normal. Mas, se o resultado desse interesse vier na forma de danos ao corpo e à mente, poderá haver efeitos colaterais preocupantes.
Quais são as causas do vício em pornografia?
Devido às diferenças de opinião entre os especialistas, os pesquisadores ainda não identificaram uma causa clara para o vício. No entanto, um estudo de 2015 descobriu que se identificar como uma pessoa viciada em pornografia não se deve ao fato de assistir a esse tipo de conteúdo, mas sim ao estresse associado a ele.
Isso sugere que pensar que “sou viciado em pornografia” pode ser uma das principais causas da ansiedade que algumas pessoas experimentam enquanto estão assistindo.
Os especialistas que apoiam a existência do vício em pornografia argumentam que, assim como outros vícios, é um problema complexo que precisa ser tratado o mais rápido possível.
Algumas das principais causas do vício em pornografia incluem:
- Problemas de saúde mental:
- Problemas de relacionamento:
- Normas culturais não saudáveis:
- Causas biológicas:
Pode-se usar material pornográfico para evitar algum sofrimento psicológico.
O vício em pornografia pode ser uma válvula de escape para uma vida sexual insatisfatória.
Numa sociedade onde o indivíduo não sente-se livre para expressar e viver sua sexualidade livre e saudavelmente; pensar em como as pessoas deveriam se parecer e se comportar durante o sexo, ou ainda ter curiosidade sobre o tipo de sexo que as pessoas gostam e demais critérios semelhantes, podem levar algumas pessoas ao vício da pornografia.
Devido à exposição a conteúdos sexuais, as mudanças químicas no cérebro podem aumentar o risco do vício em pornografia.
Quais são os sintomas do vício em pornografia?
Para quem sente-se como uma pessoa viciada em pornografia, ou convive com alguém assim, existem alguns sinais de alerta que ajudam a identificar se a pessoa está sofrendo de fato esse vício:
- Mesmo que você não esteja assistindo a pornografia, ela está em sua mente a maior parte do tempo;
- Assisti à pornografia no local de trabalho ou em um local público;
- Sente-se envergonhado, culpado ou triste com o hábito de ver pornografia;
- Continua a assistir pornografia mesmo depois de danos nos relacionamentos, trabalho ou vida doméstica;
- Sem pornografia você não obtém satisfação sexual com a pessoa parceira;
- Esconde da pessoa com quem se relaciona que você assiste pornografia;
- Você fica chateado quando lhe pedem para parar de assistir pornografia;
- Você perde a noção do tempo enquanto assiste pornografia;
- Você já tentou parar de assistir pornografia, mas não teve sucesso;
- Os usuários habituais de pornografia têm uma incidência maior de disfunção erétil e perda da libido.
Quais são os tratamentos para o vício em pornografia?
Não há um tratamento específico para uma pessoa viciada em pornografia. Mas, recomenda-se fazer um detox dos conteúdos adultos, a fim de privar o cérebro de qualquer estimulação sexual. Inclusive, interromper as masturbações e o sexo por um tempo pode ajudar também. Não é fácil no início, já que o cérebro está acostumado ao estímulo sexual constante. No entanto, o resultado é compensador.
Para algumas pessoas, ainda vale buscar ajuda profissional para identificar a causa raiz do hábito excessivo de assistir à pornagrafia, como por exemplo, os problemas de relacionamento, constrangimento sexual ou a depressão.
Os tratamentos com um médico especialista em sexologia, consistem em:
- Psicoterapia
- Aconselhamento de relacionamento
- Medicamentos
- Mudanças no estilo de vida
Pode ajudar a pessoa a entender sua relação com a pornografia, identificar as necessidades sexuais não satisfeitas e desenvolver estratégias para lidar com o sofrimento psicológico.
O aconselhamento de casais também pode ajudar os dois parceiros a falar sobre seus valores e decidir se a pornografia tem ou não um lugar em seu relacionamento. Isso acaba por criar mais confiança entre o casal.
Às vezes, uma pessoa usa pornografia para lidar com outro problema. Os medicamentos podem ajudar a tratar a causa escondida em algum canto da mente da pessoa.
Algumas pessoas também usam filmes pornôs para aliviar o tédio ou a exaustão. Assim, o médico também pode indicar passar menos horas no computador ou celular para ter um estilo de vida mais saudável.
Embora possa ser desconfortável se expor à verdade sobre seu comportamento e pensamentos, é preciso enfrentar essas realidades para garantir que receberá o tratamento adequado. Com o tratamento correto, o vício em pornografia pode ser curado permanentemente.
Referências:
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